António P. Ferreira - "Treinadores portugueses em Ourense"

O tradicional Clinic de Ourense decorreu este fim-de-semana com a presença de alguns treinadores portugueses que assistiram a dois dias de interessantes intervenções. 

Pepe Laso centrou-se no treino individual com jogadores. Recorrendo a múltiplos exemplos do trabalho desenvolvido com a 7ª escolha do Draft NBA da semana passada, o congolês Bismarck Biyombo, a intervenção de Pepe Laso deixou a ideia de que o jogador de aspiração profissional não pode ver-se limitado nos horizontes de melhoria e superação. Tem que querer mais do que é, do que pode e do que faz em cada momento. A sua ambição não pode ter limites. A metáfora de que o jogador de aspiração profissional tem de ser um “alpinista”, no sentido em que os limites devem para ele constituir um desafio, foi a marca da sua comunicação. 

O dia de sábado – 25 de Junho – foi passado com Pedro Martinez, treinador do Gran Canária 2014. Foram abordados três temas: a criação de espaços no jogo de 5x5 em ataque, conceitos fundamentais de defesa e situações de 2x2 com ênfase na leitura de bloqueios indirectos. 

Domingo, 26 de Junho, o Clinic terminou com Ettore Messina, recentemente contratado para trabalhar com Mike Brown em Los Angeles Lakers. Os princípios que regem o seu trabalho, a filosofia em que assenta a sua visão do jogo, no ataque e na defesa, foram as ideias transmitidas em três comunicações de grande interesse. Se há muitas conclusões a retirar, uma delas parece-me inequívoca: os fundamentos do basquetebol continuam a ser os determinantes da qualidade do jogo. 

Excepção feita à intervenção de Pepe Laso, dirigida para um tema lateral (apesar de importante), Pedro Martinez e Ettore Messina dispensam apresentações. São dois treinadores de top, treinam nas mais competitivas ligas do mundo, têm treinado equipas compostas pelos melhores jogadores da Europa. 

Nas suas intervenções os fundamentos do jogo ocuparam todas as horas de intervenção que dedicaram ao Clinic. Para ser mais claro, refiro-me a detalhes como: a quem, quando passar e como?; como ler colectivamente a penetração?; como conseguir tirar vantagens do "curl" ou do "fade away" na passagem dos bloqueios indirectos?; que respostas ler na acção da defesa?; o que fazer para, no bloqueio indirecto, conseguir melhores ângulos sem fazer faltas no ataque?; como mover o defensor em ajuda para reduzir espaços de penetração à bola?; como ensinar os jogadores a utilizar a visão periférica?. Parece simples demais. 

Fomos ouvir um dos treinadores mais conceituados da ACB – Pedro Martinez – e um dos nomes mais sonantes do mundo – Ettore Messina –, e se esperássemos trazer um truque, vínhamos insatisfeitos. Não nos foi possível trazer mais do que um sistema ofensivo, que até nem parecia ter nada de novo. Não trouxemos nenhuma zona, match –up ou qualquer mista. Nem sequer um movimento milagroso que pudesse ajudar a ganhar um jogo. Ao invés disso, trouxemos inúmeras ideias para desenvolver no trabalho da táctica individual dos jogadores e da sua relação com a colectiva. 

Apesar de não termos trazido nenhum truque, da minha parte encontrei a resposta de sempre. A que insiste em reforçar a convicção de que o basquetebol de alto nível continua a ser um jogo em que o conhecimento dos detalhes, o treino dos seus fundamentos e a sua preparação ao limite, continuam hoje, e certamente amanhã, a fazer toda a diferença na qualidade dos jogadores, dos treinadores e das equipas. 


António Paulo Ferreira - Treinador de Basquetebol e vogal da Direcção da ANTB

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